EXISTE CULPA? DE QUEM É A CULPA?
Gostaria de convidá-los a uma reflexão sobre o que nós, como
pais ou responsáveis, estamos ensinando às nossas crianças. Atualmente vivemos
uma crise política (que não é de hoje, diga-se de passagem), na qual observamos
falcatruas, desvios de verbas públicas, superfaturamentos de obras, entre outras
tantas ações que desmoralizam nossos representantes. Diante disso, enchemos
nossos peitos para criticar e julgar, e não estamos errados, pois realmente fazem
por merecernosso desrespeito.
Mas por que chamei a atenção para isso? Lembrem que comecei
meu texto com um convite: refletir sobre o que estamos ensinando às nossas
crianças... então não foi em vão que abordei a crise política, pois gostaria de
fazer uma relação entre as duas coisas.
Reflexão 1:
Enquanto criticamos as roubalheiras dos políticos, não devolvemos o troco
errado que a caixa do supermercado nos deu, com a justificativa de que o
problema é dela, pois deveria estar mais atenta e ainda saímos felizes por
termos levado vantagem.
Reflexão 2:
Enquanto nos indignamos e, muitas vezes nos revoltamos com uma consulta médica com
hora marcada, que atrasa, levamos nossos filhos à escola sempre atrasados, e
ainda reclamamos com a diretora que deveria haver tolerância de 15 minutos.
Reflexão 3:
Enquanto reclamamos e esbravejamos com os políticos que legislam em causa
própria, estacionamos mal, ocupando a vaga de dois veículos, afinal “danem-se
os outros”.
Reflexão 4:
Enquanto ensinamos nossas crianças que não se deve mentir, mandamos estas
mesmas crianças dizerem que não estamos em casa, quando não queremos receber
determinada pessoa.
Reflexão 5:
Enquanto ensinamos às nossas crianças que é preciso respeitar as leis,
estacionamos na contramão, utilizamos vagas para deficientes, para idosos, para
vans escolares, paramos em locais proibidos... e tudo isso, onde?? Na frente de
nossas crianças!!
Reflexão 6:
Enquanto exigimos responsabilidade, cumprimento de prazos e dedicação das
pessoas que trabalham com ou para a gente, não ensinamos aos nossos filhos a
importância da escola, a importância de realizar as tarefas escolares, de
cumprir os prazos de entrega de trabalhos e, o que é pior,fechamos os olhos e
ainda criticamos, desrespeitamos e xingamos a professora (de preferência na
frente da criança), afinal quem aquela *&%$%#@# pensa que é para cobrar
algo de da gente, não é?
Reflexão 7:
Enquanto ficamos indignados quando marcamos algum compromisso e as pessoas
faltam, não comparecemos às reuniões na escola de nossos filhos, afinal “aquelas”
professoras dizem sempre a mesma coisa e eu não posso perder aquele capítulo da
novela ou o futebol.
Reflexão 8:Diante
de tudo isso,pergunto novamente: o que estamos ensinando às nossas crianças?
Será possível ensinar do modo “faça o que eu digo e não o que eu faço”??? NÃO!!! Crianças aprendem pelos exemplos
e quando agimos destas maneiras tortas, elas estão internalizando que o pai, a
mãe ou qualquer outra pessoa importante para elas, não cumpre com sua palavra;
estamos ensinando que não há necessidade de sermos honestos o tempo todo, que
não há necessidade de sermos pontuais com nossos compromissos, que não há necessidade
de respeitar as pessoas, as normas, as regras, as leis... mas...,nos inflamos
de razão para reclamar da crise política e moral pela qual passamos e para
reclamar de nossos representantes, pois afinal eles estão muito errados em suas
atitudes. Será que há tanta diferença assim nas atitudes deles em comparação
com as nossas?
Vocês dirão: “Ahh, mas eu não roubo, eu não desvio dinheiro
público, eu não faço nada disso! Eles são piores!”. Pode até ser que sim, mas
enquanto nós não mudarmos nossas atitudes, estaremos reforçando a ideia de que
para tudo sempre tem um “jeitinho”, contudo, enquanto as pessoas fizerem uso desse
“jeitinho” estaremos exatamente do mesmo modo, pois frases de efeito, tais
como: “As crianças são o futuro!”, “Precisamos cuidar de nossas crianças, pois
o mundo depende delas!”, se tornam apenas palavras vazias, pois se não
ensinarmos nossas crianças a serem diferentes, nada vai
mudar, tudo vai continuar como está e nós somos os responsáveis pela
continuidade da corrupção, pois ela começa bem aqui embaixo e é da altura das
nossas crianças!!
Ana Cristina Vendramin
Prof. Psicopedadoga/Psicóloga
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